Depois do lançamento do Apple iPad a febre tecnológica passou dos e-readers para os tablets. Se até o dia 27 de janeiro de 2010 os fabricantes anunciavam quase diariamente um novo modelo de leitor digital, desde então novos portáteis touchscreen são revelados com a mesma frequência.
Mas o “iPhonão” de Cupertino é apenas a mais nova aplicação de um conceito de equipamento existente na informática desde a década de 1980. Descubra neste artigo como um dispositivo dado como morto pelo mercado tornou-se o mais recente objeto de desejo dos geeks.
Como tudo começou
Quando os computadores começaram a aparecer fora das empresas, muitos usuários reclamavam de terem de usar um teclado. Por mais que a semelhança com a máquina de escrever existisse – graças ao padrão QWERTY de distribuição de letras e números – a quantidade de funções desempenhadas a partir de toques era gigantesca.
Lembre-se de que nos anos 1980 o mouse não era um equipamento padrão em computadores pessoais, e a interface gráfica que você conhece hoje ainda estava dando seus primeiros passos. O MS-DOS e outros sistemas operacionais de linha de comando imperavam no cenário da informática doméstica.
Quando, em 1989, a GRiD lançou o seu GRiDPad, a revolução que muitos acreditam começar agora com o iPad se iniciou de fato. A computação baseada em canetas se mostrou promissora, trocando o teclado pela tela sensível, ativada por stylus e prometendo o reconhecimento de escrita que faria qualquer pessoa aprender rapidamente a usar um computador.
Alarde e decepção
De maneira semelhante à que vemos hoje, assim que o GRiDPad foi lançado o mercado viu uma enxurrada de aparelhos semelhantes. Os slate computers – como eram chamados na época – surgiram nos mais diversos formatos.
Em 1992 a Microsoft coloca no mercado o Microsoft Windows for Pen Computing, que permitia aos desenvolvedores a criação de aplicativos dedicados à nova forma de interagir com a máquina. No ano seguinte a Apple embarca no hype com o Newton, historicamente um de seus maiores fracassos comerciais.
Até 1995, os Pen Computers – outro nome comercial da época – mantiveram-se como grande esperança, mas sem muito sucesso comercial. Motivos para isso sobravam: o tão enaltecido reconhecimento de escrita funcionava mal e as limitações de processamento, memória e tamanho dos computadores os transformavam em pouco mais do que agendas eletrônicastouchscreen.
Em 1996 o cenário começa a mudar, graças ao PalmPilot. O pequeno aparelho foi o primeiro Pen Computer a realmente ser um sucesso de vendas, graças ao seu bom hardware e ao sistema Graffitti de entrada de caracteres, com seus movimentos diferenciados para cada letra.
Como o mercado manda, no rastro do PalmPilot, vários outros PDAs (Personal Digital Assistants – Assistentes pessoais digitais) foram lançados, inclusive o grande rival da Palm: o PocketPC.
Ascensão e queda
Os PDAs mantiveram-se como principal forma de slate PC para o público geral até o surgimento e a popularização dos smartphones. Apesar de não funcionarem da mesma forma, a convergência da computação móvel com a telefonia celular gerou a possibilidade de conexão com a internet em qualquer lugar, coisa que os PDAs não fazem, dependendo sempre de linhas telefônicas fixas ou hotspots Wi-Fi.
Portões abertos
Um dos principais responsáveis pela permanência dos slate PCs no mercado foi Bill Gates, da Microsoft, que manteve o investimento de sua empresa no desenvolvimento de software destinado aos tablets. O Windows XP Tablet Edition, por exemplo, era acompanhado de uma série de especificações mínimas de hardware.
Quando um determinado equipamento atendia a essas especificações, recebia o certificado Windows Tablet PC, comprovando sua capacidade de operar como um computador normal, porém sem depender do teclado.
Mesmo com todas as dificuldades, duas categorias de slate PC – além dos pequenos PDAs - conseguiram conquistar seu espaço: os notebooks híbridos e os rugged tablets.
Escritório portátil
Os híbridos são misturas de tablets com notebooks normais. Para alterar entre um estado e outro basta girar a tela sensível a toque, deixando a carcaça sobre o teclado, e a tela exposta.
Esse tipo de equipamento é principalmente utilizado no cenário corporativo, em que apresentações rápidas e discussões sobre documentos acontecem com frequência graças à tela basculante em duas direções.
Além disso, não é incomum um gerente de fábrica ou um executivo não poder sentar em uma mesa para começar a registrar dados em planilhas ou em texto, tarefa bastante facilitada pela tecnologia digital ink desenvolvida pela Microsoft. Logo depois, em seu escritório, o usuário pode colocar a tela de volta em uma posição normal e utilizar o híbrido como qualquer outro notebook.
Heróis da resistência
Com um conceito completamente oposto aos notebooks híbridos, os rugged tablets são equipamentos destinados a uso bastante específicos. Encontrados em grandes obras de engenharia, operações militares e outros cenários críticos, esses dispositivos prezam tanto pela eficiência de utilização quanto pela resistência a intempéries e acidentes.
Enquanto a maioria dos computadores não resiste sem marcas a quedas e outros eventos igualmente trágicos, os rugged tablets são certificadas justamente em relação à sua resistência. Além disso, também a proteção contra riscos ambientais – água, poeira e similares – conta para a obtenção desse status.
Minitablets
Os smartphones que roubaram a cena dos PDAs se desenvolveram e, equipados com touchscreens, receberam o nome de tablet. O próprio iPhone apresenta várias características que permitem classificá-lo assim, e que também são encontradas na sua versão fermentada: o iPad.
Mas além dos super telefones, uma categoria especial de equipamentos pode ser considerada a origem de todo o frisson atual sobre os computadores touchscreen: os MID (Mobile Internet Devices – dispositivos móveis para internet). Dentre eles, provavelmente os mais conhecidos pertencem à série N da finlandesa Nokia.
Muito semelhantes aos PDAs de antigamente por fora, e mais poderosos que os smartphones por dentro, aparelhos como o Nokia N810 levam ao usuário uma experiência de uso bastante interessante, com interface adaptada ao toque e um teclado físico integrado para digitações mais complexas.
A nova geração
Desde 27 de janeiro – data do anúncio oficial do iPad – o mercado recebe promessas de novos produtos quase diariamente. De maneira bastante semelhante ao início dessa história, todos querem entrar no segmento que promete desbancar netbooks e e-readers como gadgets do ano.
Mais poderosos, versáteis e bonitos que os slate computers dos anos 1990, os tablets de 2010 contam também com um grande aliado para não seguir o rumo jurássico de seus predecessores: a tecnologia móvel atual, com 30 anos de vantagem em desenvolvimento.
Com redes Edge, 3G e Wi-Fi disponíveis em quase todos os lugares, sistemas operacionais extremamente adaptados à realidade dos portáteis – como o iPhone OS e o Android – e hardware específico como as telas capacitivas e os processadores de baixo consumo, muitas dificuldades enfrentadas pelos primeiros slate PCs não passam perto dos aparelhos mais recentes.
Daqui para frente
Não é possível adivinhar o que virá, mas baseado em patentes já reveladas e anúncios de diversas empresas, pode-se esperar uma convergência ainda maior dos leitores digitais e tablets.
A Amazon.com já liberou a plataforma de desenvolvimento do Kindle, a Microsoft anunciou em 2009 o Courier, e diversas empresas trabalham com tecnologias que podem ser utilizadas nesse tipo de equipamento: telas flexíveis, E-ink colorido e com frequência suficiente para vídeo etc.
Mas pode-se deixar o futuro para depois, e aproveitar ao máximo as maravilhas ofertadas hoje mesmo. Afinal, quem não quer um tablet?